Fitzcarraldo
O piano Pleyel, do nosso teatro, foi denominado de “Fitzcarraldo”. Para quem quer imaginar o porquê e conhecer um pouco de uma história real, pode consultar esta página. Na verdade, trazer um piano como este para o Penedo foi apenas um pouco menos difícil do que a história real. Mas houve uma época em que muitos pianos existiam no Brasil, não apenas nas capitais, mas também pelas cidades do interior e na zona rural. Isso foi particularmente comum ao longo do séc. 19, quando o instrumento se popularizou. E Penedo não foi uma exceção. Muitos pianos ainda permanecem adormecidos ou infelizmente ruindo entre paredes desconhecidas.
Os pianos da marca Pleyel começaram a ser produzidos em 1807, na França. Fundada por Ignaz (Ignace) Pleyel, Pleyel foi um dos mais antigos fabricantes de piano. Tornou-se a marca preferida de alguns compositores como Chopin, Saint-Säens, Ravel, Debussy e Stravinsky.
Ao longo do séc. 19 foram criadas várias versões de salas de concerto denominadas de “salas Pleyel”, das quais a Salle Pleyel, em Paris, é ainda uma das mais importantes salas de concerto da música internacional.
Ainda hoje, todos os pianos tradicionais são fabricados artesanalmente, num processo que pode levar meses, até um ano! E como podemos saber quando foi fabricado um piano? Normalmente todos os pianos possuem um número de série gravado em sua estrutura, às vezes em todas as peças maiores utilizadas em sua montagem. E a Pleyel, como tradicional fabricante, não fugiu à regra. Contudo, numa história de mais de dois séculos, os procedimentos mudaram ligeiramente de tempo a tempo.
Em 2009, os arquivos de fabricação da Pleyel (e também de outros fabricantes, como Érard e Gaveau) foram doados ao Musée da la Musique, da Philarmonie de Paris. Os arquivos abrangem o período de 1829 a 1976, porém por questões técnicas, apenas foram digitalizados os arquivos até 1945. E é consultando esses arquivos que se pode recuperar algumas informações relativas a cada um dos instrumentos fabricados. A questão é que, a partir de um determinado momento (entre 1895 e 1937) a Pleyel estabeleceu uma numeração dupla para seus instrumentos: além do número de série (“Matricule de fabrication”), correspondente à fabricação, estabeleceram um “Matricule de sortie”, referente ao número de venda. Em alguns casos, ainda aparece o número “1” antes do número de série, o que pode confundir a pesquisa.
O número de série do Fitzcarraldo é 90255, e seu estilo construtivo é característico dos pianos fabricados a partir do final da década de 1920. Como faltam os registros digitalizados posteriores a 1945, inicialmente pensou-se que ele havia sido fabricado em 1930 pela consulta aos arquivos da Pleyel. Contudo, algum tempo após a consulta inicial, foi localizado uma segunda numeração, a “Matricule de sortie”, que está registrada uma única vez no instrumento, e em local pouco visível, com número 202380. Assim, o cruzamento dos dois fornece o ano de 1951 como o de fabricação.
Não se sabe ao certo quando e porquê o piano chegou ao Brasil. Um selo da tradicional Casa Carlos Wehrs, do Rio de Janeiro, mostra que se o piano não foi comercializado pela mesma, ao menos pode ter recebido manutenção da empresa. Mas provavelmente esta casa foi a importadora.
Até o início do séc. 21 pertenceu a uma conhecida médica carioca, já falecida, que era também pianista e compositora. Em 2020 foi adquirido em um antiquário e mudou-se para o Penedo, onde renasceu em um esplendor talvez nunca antes imaginado, tendo sido já utilizado para vários recitais em nosso teatro.